Millôr Fernandes narra uma linda
fábula onde dois personagens, um homem que possuía muitos conhecimentos e um
jovem inexperiente. Estes dois personagens com experiências de vidas, culturas
e educação diferentes, certo dia encontram-se em um ônibus e seguem viagem juntos
travando uma ligeira conversa. A certa altura a conversa perde o interesse,
torna-se enfadonha, chata mesmo. Na esperança de tornar aquele encontro mais
interessante o homem propõe ao jovem um jogo: Você me faz uma pergunta
qualquer. Caso eu não saiba resolver você ganha R$ 100,00. Depois eu lhe faço
uma pergunta e se você não souber responder você me paga igualmente R$ 100,00. A
proposta foi prontamente rejeitada pelo garoto. O senhor sabe infinitamente
muito mais coisas que eu. Desse modo não posso jogar. Eu aceito sob a seguinte
condição. Quando não souber a resposta eu pago R$ 20,00 e quando o senhor não
souber me paga R$ 100,00. O homem concordou com o garoto, pois considerou o
trato justo e pediu para o menino começar. Então o jovem fez a primeira
pergunta:
- O que tem cabeça de cavalo,
seis patas de elefante e rabo de pau?
- Não sei – disse o homem. Isso
não existe.
- Então o senhor me deve R$
100,00 – disse o jovem.
- Esta bem, eu pago R$ 100,00 –
concordou o homem. – Mas agora é a minha vez. Diga-me então: o que é que tem
cabeça de cavalo, seis patas de elefante e rabo de pau?
- Não sei disse o jovem. E sem
discussão pagou os R$ 20,00.
Qual dos dois você considera mais
competente neste jogo? A nossa primeira resposta será dizer que não podemos
confundir a esperteza apresentada pelo jovem com a competência do seu competidor.
McClelland, psicólogo, pesquisador do comportamento e precursor nos estudos
sobre competências, define competência como sendo: “Um conjunto características subjacentes ao comportamento e que possui
relação casual com desempenho
superior num determinado trabalho”. Assim sendo é resultado de um conjunto
de atitudes, valores, conhecimentos ou habilidades que distingue os indivíduos
que apresentam desempenho superior, daqueles indivíduos com desempenho apenas
normais. De acordo com a definição de McClelland, a esperteza apresentada pelo
jovem faz parte do conjunto de atributos para ser bem sucedido, do mesmo modo
que o drible genial de um jogador de futebol enganando seu adversário. A
esperteza, nestes dois casos, faz a diferença para ganhar o jogo. Era o
atributo essencial para o trabalho. Mesmo que isso contrarie nosso julgamento
inicial, podemos concluir que o jovem foi mais competente que o homem. Um
elevado número de empresas estão investindo na identificação das competências
necessárias para que seus profissionais sejam bem-sucedidos. Os perfis de
competências desses profissionais mais parecem descrições de superseres muito
acima do humano. Éimprovável e impossível encontrar tantas qualificações e
competências em uma única pessoa. O indivíduo que conseguir reunir todas as
competências exigidas acabará se parecendo com um Frankstein. Um certo dia um
conhecido profissional de Recursos Humanos disse: “Você pode ensinar um peru a
subir em árvore, mas é mais fácil contratar um esquilo”. Para subir em árvores,
nada melhor que um esquilo ou um macaco.
afifbittar.blogspot.com
Afif Bittar – Sociólogo – Especialista
em Psicologia Social – Consultor de empresas em Administração Geral e em
Recursos Humanos.
(11/03/08).