Esta tem sido a maior queixa de Empresários e Gerentes de Recursos Humanos em todo o Brasil, a falta de mão de obra qualificada. São raros os cursos profissionalizantes. São poucos os empresários que se dedicam a treinar e adestrar seus mais preciosos recursos que obviamente são os humanos. São João não fica fora da relação dos queixosos. Sem sombra de dúvidas, além da tão decantada desqualificação, devemos ainda considerar o baixíssimo nível de escolaridade do trabalhador brasileiro, fator que vem agravar e colocar ainda mais lenha na fogueira do total e absoluto despreparo do subdesenvolvido trabalhador, caso venhamos a compará-lo com os trabalhadores de países do primeiro mundo. Considero ainda muito mais importante que a desqualificação do trabalhador, a falta de qualificação profissional de chefes, gerentes, diretores e empresários. Veja que a qualificação de um depende da qualificação do outro, já que a qualificação do subordinado é realizada pelo chefe. Ambos, chefe e subordinado, são interdependentes, existindo um claro relacionamento de interdependência entre ambos, embora não seja muito visível aos indivíduos envolvidos. Esta é uma das inúmeras constatações não só no parque industrial brasileiro, bem como no comércio e na prestação de serviços. O despreparo da nossa mão de obra é visível a olho nu. Basta solicitar alguma informação a um atendente em qualquer balcão de informação para logo se constatar sua total desinformação, seu absoluto despreparo. Não existe treinamento e nem mesmo uma simplória orientação desse funcionário. Quem responde pelo desleixo? Lógico que o chefe direto. O chefe terá o perfil desejado para o cargo? Foi treinado para exercer esse cargo? A resposta como sempre é não para ambas as questões. O chefe direto tem um ótimo “QI”. Ele foi indicado por um pessoa muito influente junto à diretoria. Há alguns dias conversando com um amigo e, como todos sabem, amigos são muito poucos, ele confidenciou-me que trabalhou em uma grande empresa local e que foi procurado por um ex-colega logo após ter sido demitido para que fosse sua testemunha em um processo trabalhista que seria movido contra o ex-patrão de ambos, no que foi prontamente atendido e com prazer. Fato é que a pessoa que estava sendo demitida era Gerente de Vendas da empresa. A pessoa em questão por razões de doença obteve licença médica, sendo afastada para tratamento de saúde. Quando do seu retorno encontrou outra pessoa ocupando seu lugar de Gerente. Desse modo seu ex-patrão rebaixou-o de posto, reduzindo seu salário, passando a ocupar o cargo de Vendedor. Uma aberração cometida por um patrão “manda chuva”, uma decisão ignorante, impensada e autocrática de alguém que age sem prever as conseqüências dos seus atos. Onde fica a área de RH? Bem, segundo informações, o empregado rebaixado sabia da ilegalidade, tanto que processou administrativamente tal barbaridade. Este Gerente de RH e os das demais empresas que agem desse mesmo modo, estão maculando o nome e a dignidade de uma área que deve cuidar e zelar pelo maior patrimônio das organizações que são exatamente as pessoas. O Gerente da empresa em questão e seu Diretor são absolutamente desqualificados. Não deveriam ocupar cargos de liderança. Deveriam ceder seus lugares aos mais competentes, aos mais capazes. Neste e em inúmeros outros casos semelhantes que ocorrem freqüentemente surge uma questão primeira e primária: Quem arca com os custos da indenização a que tem direito o funcionário demitido, já que não houve caracterização de justa causa? Deve ser o Gerente de RH ou o Diretor “manda chuva”? A empresa deve agir com mais cuidado, cautela e ponderação na tomada de decisão, ao admitir, promover funcionários e decidir sobre os destinos de seus colaboradores, a fim de não se arrepender ao tomar decisões que poderão comprometer seus recursos financeiros em situações, no mínimo, embaraçosas. Só para constar, quando soube do presente caso, a indenização da pessoa em questão estava calculada em mais de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais). Trata-se de um belíssimo rombo no caixa da empresa que muitas das vezes não faz nenhuma previsão e muito menos provisão para despesas dessa natureza. Assim sendo caros senhores, cuidado nas suas admissões, promoções, movimentações e demissões de pessoal, pois elas poderão ficar muito mais custosas do que possam imaginar caso sejam tomadas sem a necessária ponderação e sem, principalmente, o conhecimento de especialistas das áreas. Os especialistas decidem seus destinos no mercado e especialmente na sua saúde financeira.
Afif Bittar – Sociólogo – Especialista em Psicologia Social – Consultor de empresas em Administração Geral e em Recursos Humanos. (18/08/10).