Esta é a história de um alpinista
que sempre buscava superar mais e mais suas forças e novos desafios. Ele
resolveu depois de muitos anos de preparação escalar o Aconcágua. Esse alpinista,
no fundo, no fundo mesmo buscava a glória somente para si. Queria tanto essa
almejada glória que resolveu escalar sozinho, sem ajuda de no mínimo um
companheiro, o que seria muito natural e o mais lógico por se tratar de uma
escalada extremamente difícil e perigosa como a pretendida por ele. Após os necessários
preparativos começa muito cedo a difícil subida do monte Aconcágua. A tarde vai
caindo e o alpinista resolve não acampar seguindo em frente sua escalada para
atingir o topo. Finalmente escurece e a noite cai como um breu no alto da
montanha. Não se consegue enxergar um palmo adiante do nariz. Não se vê
absolutamente nada, é uma total escuridão, visibilidade zero. Uma densa neblina
cobre tudo à sua volta. Olhando para o céu não se vê uma única estrelas, sem
lua, apenas uma nebulosidade cobrindo todo o espaço sideral. Em sua caminhada
por uma parede do monte rumo ao topo o nosso alpinista desafiador está a apenas
cerca de cem metros do cume. Ao dar um passo em falso o escalador de montanhas escorrega
e cai, cai a uma velocidade enorme, vertiginosa mesmo. Em sua alucinante
descida consegue ver em sua mente apenas manchas escuras passando rapidamente
por ele. Sente uma fria sensação de estar sendo sugado pela força da gravidade.
Horrorizado e quase morto de medo, continua caindo, caindo, caindo. Nos
momentos alucinantes dessa aventura, passam por sua mente, as melhores bem como
as mais tristes lembranças vividas em sua vida de alpinista aventureiro. De
repente ele sente um forte puxão que quase o partiu ao meio. A corda que havia
fixado em sua cintura e preza aos grampos e nas estacas cravadas na geleira o
salvou. Salvo por um triz. No assustador silêncio da noite, suspenso no ar e
completamente só, nada restou a ele senão gritar, gritar com toda sua força:
- Meu Deus me ajude! ! !
De repente uma voz grave e
profunda vinda do alto, do infinito, responde:
- O QUE VOCÊ QUER DE MIM MEU
FILHO.
- Me salve meu Deus, por favor! !
!
- VOCÊ REALMENTE ACREDITA QUE EU
POSSA TE SALVAR?
- Eu tenho certeza meu Deus.
- ENTÃO CORTE A CORDA QUE TE
MANTÊM PENDURADO.
Houve um curto e breve momento de
silêncio que mais pareceu uma eternidade, acompanhado de uma quase que
interminável e profunda reflexão. O pobre homem agarrado ao seu medo, medo do
desconhecido, segurando firmemente na corda que o prendia à geleira refletiu
novamente por alguns segundos mais, pensou e falou para si mesmo que caso
cortasse a corda teria morte certa. Assim pensando, assim fez. Dominado e
petrificado pelo medo não se soltou da corda. O que ele não sabia e nem sequer
imaginava era que havia realmente dialogado com Deus. Nosso alpinista estava
apenas a dois metros do chão, conforme foi constatado na manhã do dia seguinte.
O medo e a falta de confiança o mataram.
Narra a equipe do resgate que
recebeu informações de outro grupo de alpinistas que encontraram um colega
congelado. Estava morto agarrado fortemente com as duas mãos a uma corda, a tão somente dois metros do chão.
Livre adaptação de texto de autor
desconhecido.
Afif Bittar – Sociólogo – Especialista
em Psicologia Social – Consultor de empresas em Administração Geral e em
Recursos Humanos. afifbittar.blogspot.com (12/03/08).
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