Hoje as pessoas maiores de 35
anos fazem parte de uma pobre e infeliz categoria de indivíduos enjeitados nas
organizações empresariais. O que é de todo modo injustificado pois, esta imensa
multidão de pessoas acumulou, aos longo dos anos, uma invejável experiência,
uma enorme capacidade e competência no planejamento, organização, direção,
execução e controle de atividades sejam elas administrativas ou produtivas,
isto tudo sem falar na sua enorme capacidade de comunicação, o que, alias é
mais uma extraordinária ferramenta gerencial e muito pouco ou quase nada
utilizada nos dias atuais. Cada geração costuma inventar e reinventar seu
próprio reino, imaginando sua própria Utopia,
isto é, uma sociedade imaginária, fundamentada em leis justas e em
instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar
da coletividade. Esta Utopia pode
ainda, meio que de repente, ser um projeto tão maravilhoso, uma idéia tão
generosa, porém de natureza irrealizável, impraticável, por ser uma quimera,
nada além de uma linda e romântica fantasia. Estas figuras a que me refiro,
maiores de 35 anos, entre as quais me incluo, formam nos dias de hoje, no
Brasil de agora, mais envelhecido do que foi ontem, uma imensa legião, uma
verdadeira procissão de visionários na esperança de alcançar a tão almejada
felicidade. Esta legião vive em um campo fértil, contudo é tenebroso,
pantanoso, sombrio. Como bem sabemos existem muitos tipos de preconceitos e todos eles são nefastos sob todos os
pontos de vista, entretanto, há um tipo de preconceito que não foi suficientemente apresentado, enfatizado, discutido,
debatido e execrado da sociedade global, o preconceito
da idade. A sociedade procura disfarçar e mascarar este preconceito contudo
ele está presente na família, no clube, na igreja, na escola, na rua, no
trabalho, nas rodas sociais. Onde quer que você vá minha cara amiga, meu caro
amigo acima de 35 anos, ele também vai. Esta
atitude costuma constranger e muito as pessoas, arrasando suas esperanças,
sufocando os desejos que o idoso possa vir a ter. Existe no Brasil uma
manifesta cultura de preconceito. As
autoridades fazem vistas grossas desconsiderando algo que se manifesta a olhos
vistos. As estratégias do marketing moderno com tremenda obsessão pelas formas
anatomicamente perfeitas, sejam masculinas ou femininas, optaram e determinaram
a obsolescência da pessoa madura, elegendo os mais jovens como sendo mais
competentes e capazes, avaliando exclusivamente sua bela forma física e não sua
experiência, sua competência. Para o lixo com todo o vasto tempo empregado na
longa caminhada da vida e do conhecimento. A ditadura da beleza, com o apoio da
ditadura da terrível mídia massificadora,
espalha o terror da precocidade. Jovens de 15, 16, 17 anos, com os corpos
adultos, entretanto com cabecinhas ainda imaturas são expostos ao público como
verdadeiros símbolos de sedução, o ideal estético. A mensagem dos órgãos de
comunicação é bastante clara: “caso você já não possua a exuberância da
juventude, você não tem mais chance de viver emoções nas quais os componentes
afetivos e sensuais estejam presentes”. Pode-se ver que a discriminação é
latente, muito presente mesmo. Neste e
em inúmeros outros casos não se observa nenhum pudor nem disfarce na mensagem,
ela é explicita. Os homens maduros costumam ser ridicularizados claramente em
algumas mensagens publicitárias, sendo que algumas são até divertidas, contudo,
outras são vulgares como as mensagens do Viagra e seus sucessores. As mulheres,
pobres criaturas, sofrem ainda muito mais que os homens. Zalman Schachter-Shalomi, um dos autores do livro “Mais Velhos, Mais Sábios”, observa
que, “na primeira metade de sua vida, a sociedade recompensa a mulher por ter
uma aparência jovem e ser sexualmente desejada. Na segunda metade, quando a sua
beleza física começa a desaparecer e o início da menopausa assinala sua entrada
mais madura da vida, a mulher é desvalorizada”. O atual mercado de trabalho
estabeleceu um delirante sistema de concorrência em que foram estabelecidas
regras duríssimas e absolutamente excludentes onde os profissionais grisalhos,
acima de 35 anos, estão automaticamente fora do processo seletivo. Existe
portaria federal que proíbe esse tipo de discriminação. Embora essa limitação
não apareça nas ofertas de vagas, ela consta das regras internas das
organizações empresariais. Por sua vez os programas de demissões incentivadas
ou não, em curso nas empresas, sejam privadas, mistas ou governamentais, atingem
especialmente as pessoas maiores de 35 anos. O que restou desse infame, indigno
e degenerado processo restritivo que ofende de todas as maneiras os chamados
seres humanos, foi a dignidade ferida de
cada homem e mulher nessa faixa etária. O que ainda contribui para piorar este
processo, é que ele viabiliza a imposição do miserável preconceito, contribuindo
consideravelmente para que seja elevado o número de homens e mulheres devastados
pela crise da meia idade, caiam sucumbidos na maldita trilha da exclusão
social. Leonardo Da Vinci foi a maior expressão universal da genialidade
humana, sendo brilhante até o último momento dos seus extremamente produtivos
67 anos de idade. Inversamente temos neste improdutivo Brasil uma massa de
políticos jovens até com menos de 35 anos, porém corruptos e improdutivos e
empresários preconceituosos discriminando seres humanos acima dos 35 anos.
Valha-nos Deus.
Afifbittar.blogspot.com.br
Afif Bittar – Sociólogo –
Especialista em Psicologia Social – Consultor de empresas em Administração
Geral e em Recursos Humanos.
(18/05/11).
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