quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

BODE EXPIATÓRIO


De acordo com o Dicionário Houais da língua portuguesa, “bode expiatório” pode ser uma pessoa ou coisa sobre que(m) se fazem recair as culpas de outros ou outras coisas; pessoa ou coisa a que(m) se imputam ódios, revezes, frustrações, desgraças; pessoa que é alvo favorito de troças e ataques de todos. O Velho Testamento descreve esse mecanismo de “bode expiatório”, como sendo a função de um indivíduo qualquer ou de um grupo social escolhido aleatoriamente com a responsabilidade de pagar pelos erros e pecados da sociedade como um todo. No final do processo esse pobre diabo é apedrejado e, não raras vezes, acaba por falecer. Foi um produto da irracionalidade da sociedade da época. Nos dias atuais a procura por culpados passou a ser um dos passatempos favoritos de inúmeros empresários, diretores, gerentes, chefões, chefinhos, chefetes, chepones, políticos das três esferas (municipal, estadual e federal). Nos dias atuais usa-se a terminologia de “chefiota” para identificar um “chefe idiota”. Quando alguma coisa é colocada em xeque, para tais indivíduos, invariavelmente o problema há de estar no funcionário, nunca no sistema ou no processo ou ainda nas pessoas com cargos superiores. Os propósitos dúbios, a má-fé, as relações sociais insatisfatórias, bem como a competência dos envolvidos, na maioria das vezes não são questionados. É muito mais fácil fazer rolar cabeças, preferivelmente de algum inocente útil, do que subverter a ordem social vigente na tentativa de modificá-la. O erro nunca está no sistema e sim em algum pobre coitado que não cometeu crime algum – o bode expiatório. Nossos políticos, nas três esferas da administração pública, são especialistas neste assunto. Sempre desconversam para não se comprometerem. Veja por exemplo os acontecimentos entre os Estados Unidos da América e o Iraque. O ex Presidente Bush dos Estados Unidos e seu fiel escudeiro Tony Blair, ex Primeiro Ministro da Inglaterra, elegeram como seu “bode expiatório” o ex Presidente do Iraque Saddam Hussein, que de uma hora para outra, transformou-se em um poder maligno, com seu arsenal atômico e químico, tornando-se uma terrível ameaça mundial.  Dito arsenal jamais foi encontrado. Isso tudo graças à força da mídia mundial de mãos dadas com USA e Inglaterra. Entre nós, recentemente, vimos o Senado Federal eleger alguns testas de ferro como seus bodes expiatórios para salvar José Sarney da grande sacanagem produzida por ele e seus familiares. A busca por culpados gera nas pessoas uma ambição irracional, deformação cultural e educacional. Essas pessoas perdem o senso de autocrítica. Seu foco é um único: Identificar o culpado por uma falha ou erro que alguém cometeu. Nas crises das grandes organizações empresariais os responsáveis vão parar no olho da rua, dando lugar aos sucessores que, muitas vezes, não conseguem se sair melhor que seus antecessores. O mundo hoje está um verdadeiro caos. A temporada de caça nunca fecha estando aberta permanentemente. Muitas cabeças seguirão rolando.  A nossa sociedade é pródiga em explicar e justificar seus erros, descaradamente, através dos pobres e infelizes “bodes expiatórios”. Os problemas socioeconômicos são os grandes responsáveis pela crise da economia. O engraçado é que esses problemas existem há décadas. Não são recentes. O engraçado também é que ninguém, nenhum Ministro, ou SUPER-HOMEM foi responsabilizado pela sua incompetência em não solucionar algum desacerto social ou econômico que vivemos há décadas. O “bode expiatório” tem sido a globalização e os problemas sociais e econômicos que o Brasil vive.  O incrível é que esses problemas existem desde o ano de 1500. É recente não é mesmo? Fique atento para que você não seja o próximo “bode expiatório” na sua empresa.

Afif Bittar – Sociólogo – Especialista em Psicologia Social –  Consultor de empresas em Administração Geral e em Recursos Humanos. (15/05/03).

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