De acordo com o Dicionário
Houais da língua portuguesa, “bode expiatório” pode ser uma pessoa ou coisa
sobre que(m) se fazem recair as culpas de outros ou outras coisas; pessoa ou
coisa a que(m) se imputam ódios, revezes, frustrações, desgraças; pessoa que é
alvo favorito de troças e ataques de todos. O Velho Testamento descreve esse
mecanismo de “bode expiatório”, como
sendo a função de um indivíduo qualquer ou de um grupo social escolhido
aleatoriamente com a responsabilidade de pagar pelos erros e pecados da
sociedade como um todo. No final do processo esse pobre diabo é apedrejado e,
não raras vezes, acaba por falecer. Foi um produto da irracionalidade da
sociedade da época. Nos dias atuais a procura por culpados passou a ser um dos
passatempos favoritos de inúmeros empresários, diretores, gerentes, chefões, chefinhos,
chefetes, chepones, políticos das três esferas (municipal, estadual e federal).
Nos dias atuais usa-se a terminologia de “chefiota” para identificar um “chefe
idiota”. Quando alguma coisa é colocada em xeque, para tais indivíduos, invariavelmente
o problema há de estar no funcionário, nunca no sistema ou no processo ou ainda
nas pessoas com cargos superiores. Os propósitos dúbios, a má-fé, as relações
sociais insatisfatórias, bem como a competência dos envolvidos, na maioria das vezes
não são questionados. É muito mais fácil fazer rolar cabeças, preferivelmente
de algum inocente útil, do que subverter a ordem social vigente na tentativa de
modificá-la. O erro nunca está no sistema e sim em algum pobre coitado que não cometeu
crime algum – o bode expiatório. Nossos políticos, nas três
esferas da administração pública, são especialistas neste assunto. Sempre
desconversam para não se comprometerem. Veja por exemplo os acontecimentos
entre os Estados Unidos da América e o Iraque. O ex Presidente Bush dos Estados
Unidos e seu fiel escudeiro Tony Blair, ex Primeiro Ministro da Inglaterra,
elegeram como seu “bode expiatório”
o ex Presidente do Iraque Saddam Hussein, que de uma hora para outra,
transformou-se em um poder maligno,
com seu arsenal atômico e químico, tornando-se uma terrível ameaça mundial. Dito arsenal jamais foi encontrado. Isso tudo
graças à força da mídia mundial de mãos dadas com USA e Inglaterra. Entre nós,
recentemente, vimos o Senado Federal eleger alguns testas de ferro como seus bodes expiatórios para salvar José
Sarney da grande sacanagem produzida por ele e seus familiares. A busca por
culpados gera nas pessoas uma ambição irracional, deformação cultural e educacional.
Essas pessoas perdem o senso de autocrítica. Seu foco é um único: Identificar o culpado por uma falha ou erro
que alguém cometeu. Nas crises das
grandes organizações empresariais os responsáveis vão parar no olho da rua,
dando lugar aos sucessores que, muitas vezes, não conseguem se sair melhor que
seus antecessores. O mundo hoje está um verdadeiro caos. A temporada de caça nunca
fecha estando aberta permanentemente. Muitas cabeças seguirão rolando. A nossa sociedade é pródiga em explicar e
justificar seus erros, descaradamente, através dos pobres e infelizes “bodes expiatórios”. Os problemas
socioeconômicos são os grandes responsáveis pela crise da economia. O engraçado
é que esses problemas existem há décadas. Não são recentes. O engraçado também
é que ninguém, nenhum Ministro, ou SUPER-HOMEM foi responsabilizado pela sua
incompetência em não solucionar algum desacerto social ou econômico que vivemos
há décadas. O “bode expiatório” tem sido a
globalização e os problemas sociais e econômicos que o Brasil vive. O incrível é que esses problemas existem desde
o ano de 1500. É recente não é mesmo? Fique atento para que você não seja o próximo
“bode expiatório” na sua empresa.
Afif Bittar – Sociólogo – Especialista em Psicologia
Social – Consultor de empresas em
Administração Geral e em Recursos Humanos. (15/05/03).
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