As pessoas que ficam paradas no tempo e no espaço
adotando posturas radicalizadas e opiniões imutáveis, seja por desconhecimento,
ignorância ou por autoritarismo são, com freqüência, tachadas de “bitoladas” em virtude de seu comportamento
radical, impermeável e absolutamente impossível de sofrer transformações. Os
dicionários definem “bitola” como
sendo um padrão de medida, norma, modelo. O termo pode ser entendido no sentido
figurado como sendo um padrão rígido de conduta ou de comportamento e, até mesmo,
estreiteza mental. Indivíduos portadores desse mal são encontrados em todo e
qualquer lugar. São vistos com suas roupas importadas, suas colônias importadas,
seus carrões importados, ou usando roupas comuns de trabalhadores comuns. São
encontrados também nos organismo governamentais (municipais, estaduais e federal),
nas empresas privadas (nacionais e multinacionais) nas ruas, escolas, igrejas, zona
rural. Onde quer que você vá, ele estará lá,
o pobre diabo bitolado. A bitola é
uma questão de pura percepção. Depende
da ótica pessoal e ideológica de cada um,o
que quer dizer que é puramente individual. Dentro desta perspectiva de individualidade,
não existem dois pontos de vistas idênticos. A mesma realidade, o mesmo fato é
percebido ao mesmo tempo pelas pessoas de acordo com sua ótica, com seus óculos,
de acordo com suas preferências, seus hábitos, seus costumes, suas convicções,
suas crenças, suas culturas. As crenças surgem na área do inconsciente do indivíduo.
Os comportamentos e condutas individuais são movidos, entre outras razões, por
suas crenças. Este fato é mais que suficiente para justificar a dificuldade,
senão a impossibilidade de se exercer controle absoluto sobre a conduta de uma pessoa,
bem como sobre aquilo que ela pensa ou fala. Nos acostumamos julgar pessoas
pelos nossos próprios padrões. A bitola, o cisco, ou a trava em nossos olhos é
absolutamente democrática. Não discrimina ninguém. Ela pode atacar a qualquer
um de nós. Não existem vacinas contra esse mal. Ela está no mundo inteiro, nos
Estados Unidos da América, no Japão, Holanda, França, Inglaterra, Rússia, Israel,
Brasil e nas demais nações do planeta. A criatura bitolada está em toda a parte, independentemente
do sexo, idade, classe social, cor, religião, ideologia política. A bitola é a
maior inimiga da criatividade, por outro lado é a criatividade a maior arma
para enfrentar os difíceis tempos atuais. Abra seus olhos, lave-os muito bem,
tire a trava que dificulta sua “visão”,
abra seu coração e sua mente, pense, reflita, faça um exame introspectivo. Faça
a si mesmo estas perguntas: Quem sou?
Como sou? Por que sou? Como me vejo?
Como sou visto? Se você pretende
mudar alguma coisa, comece a mudança por você mesmo. Seja criativo, procure
desenvolver novas idéias, novos conceitos, novos conteúdos e pontos de vista. Não
se acomode nunca. Busque ser um renovador, um inovador, um agente de mudanças.
Transforme-se em quebrador de paradígmas. A bitola pode ser compreensível
quando se manifesta em pessoas idosas, contudo, ao se perceber que ela já
atingiu pessoas jovens, recém saídas da adolescência, não é, em absoluto,
aceitável. Esses jovens, acomodados, buscam apenas garantir um “lugar ao sol”, um
espaço no seu grupo, na organização. Estes jovens deveriam investir melhor seu
tempo tornando-se criativos, estudando e analisando seu trabalho, seu setor,
criticando-o e propondo novos processos, novas e modernas maneiras, novos modos
de ser, de agir e que venham a contribuir para racionalizar, melhorar e
modernizar os procedimentos e a estrutura organizacional. O regime militar
instalado no Brasil em 1964 contribuiu muito para a acomodação do povo brasileiro.
Era proibido pensar, falar, criticar, discordar, protestar. As escolas em todos
os níveis – do primeiro grau ao universitário – como também as empresas e todas
as demais organizações eram policiadas 24 horas por dia. Vivíamos o ranço da
ditadura militar. Hoje as coisas mudaram bastante, porém ainda não o suficiente.
Vejamos como exemplos as faculdades e universidades de agora. Embora os agentes
policiais não estejam mais lá, os alunos pouco participam das aulas, criticam
muito pouco, não discordam e pouquíssimos pensam e discutem o conteúdo das aulas.
Nossos jovens estão sendo engolidos por “bitolas” que derramam matéria goela
abaixo, o que é aceito sem nenhuma contestação, “numa boa”. Estes jovens são
pessoas envelhecidas pela sociedade temerosa do novo, do inovador, do renovador.
O sistema educacional brasileiro é ainda muito retrógrado e atrasado, sem falar,
que o aluno está muito mais interessado no diploma do que no conhecimento. Para
o homem público brasileiro quanto mais atrasado e ignorante for o povo, mais
fácil será sua manipulação e controle. Eis a razão da baixa qualidade do nosso ensino.
É ainda a velha bitola dos antigos coronéis que, por ironia do destino ou da genética,
passa de pai para filho. Existem exemplos desse tipo na política, onde pais,
filhos, noras, genros e netos dominam cidades, estados e extensos territórios deste
Brasil. Eles atuam como poderosos caciques, lembrando o Brasil colônia com suas
capitanias hereditárias, formando e construindo verdadeiros impérios feudais,
às custas da deformação da desinformação e da deseducação da sociedade
brasileira, produzida por poderosos complexos de comunicação a serviço de não
menos poderosos políticos brasileiros. Desse modo esses maus políticos,
desculpem a redundância, somente repassam aos seus vassalos as notícias que a
eles – casta dominante – interessa. E assim se consuma mais um ato, no mínimo indigno,
praticado pelos poderosos formadores da opinião pública. Lá nos seus feudos,
esses modernos senhores feudais controlam o todo poderoso e atualíssimo
complexo de comunicações de uma vasta região. Ditam as normas de conduta e de
comportamento do povo através das suas emissoras
de rádio AM e FM, TVs e de seus jornais e revistas. O povo dança a sua música e
fala a sua língua. Ninguém, ninguém mesmo pode ou consegue discordar. A palavra
do “cacique” é “lei”. “Capitães” de indústria e comércio, banqueiros e latifundiários,
são todos reféns de seus medos, de suas velhas crenças e de suas “bitolas”. Não
conseguem rever conceitos, analisar, pensar, criticar e agir no sentido de
mudar, de criar algo novo. Caminham por caminhos previsíveis, sempre do mesmo
modo rotineiro recusando mudanças. São acomodados e terrivelmente dominados
pelo medo do novo. Vivemos em um mundo em permanentes mudanças. São mudanças
propostas por organizações e pela comunidade global e internacional. O mundo
está em constante transformação. Tal estado de coisas gera nas pessoas
incertezas e insegurança, como também um forte temor e um terrível medo do nvo.
Esse medo assume uma posição de grande destaque na forma de pensar, de refletir,
de ser, de agir, enfim de se comportar das pessoas. Este mal requer muita força
e muita energia para quebrar PARADÍGMAS e também requer muita CRIATIVIDADE para
enfrentar e solucionar problemas.
Afif Bittar – Sociólogo – Especialista em Psicologia
Social - Consultor de empresas em Administração Geral e em Recursos Humanos. (26/02/05).
Nenhum comentário:
Postar um comentário